Por do Sol

Não passavam das 17 horas e ela caminhava na areia, o sol já rumava para se esconder atrás do morro dos irmãos mas ainda aquecia suas costas, a sua frente o Arpoador e o vento soprando mexia em seus cabelos como ele costumava fazer, ela algumas vezes até fechou os olhos, e pode sentir os dedos dele sendo envoltos por seu cabelo e seu cachos... em outras tantas riu-se por dentro e deixou escapar um “vai embaraçar ele todo” seguido de um suspiro...
Nas mãos as sandálias não pesavam mais do que as lagrimas em seu rosto, ela nem devia chorar, mas chorava, e seu peito sufocava seus olhos com torrentes de lagrimas e lembranças. As nuvens se pintavam de dourado e lilais, comum nessa época do ano ao por do sol, mas ela mantinha os olhos fixos no arpoador... as rochas brilhavam quase como se fossem de ouro.. e a vegetação rala nas pequena colina era como um manto verde... suave... ela pode lembrar de uma vez, uma ligação no fim da tarde... e a voz embargada ele dizendo “estou aqui... mas sinto sua falta... tudo seria melhor se estivesse comigo” mas ela não podia estar...
Os pés afundavam na areia e em alguns momentos uma onda mais atrevida tocava sua canela, e ela poderia até jurar que eram os dedos dele tocando suavemente... e pode até sentir os seus dedos acariciando levemente seu joelho e depois um beijo... frio de um vendo de fim de tarde..

Apequena escada, a rampa.. a trilha e finalmente ela pode se sentar em uma rocha que parecia em muito com o abraço acolhedor dele... alguns casais se beijavam, outros conversavam sobre a vida, ela podia jurar ter ouvido alguém pedir alguém em casamento... mas talvez fosse o canto da gaivota, ou as ondas tocando as rochas a seu lado...

o sol agora era visto por trás das montanhas, lançando raios suaves de luz e deixando uma cor única... ela suspirou forte, e lembrou dos olhos dele, de como ele se punha a frente dela para falar, das coisas que dizia, dos cabelos negros dele e da primeira vez que ele disse “eu te amo” a ela...
Lembrou-se de que ele a descrevera depois como olhos assustadoramente lindos, mas ainda assim mais assustados que felizes ao ouvir... era cedo ela pensava... para ele... era hora...
Lembrou-se de tantas vezes que ao se declarar a ela ele deixava as lagrimas correrem no rosto não por dor ou por besteira infantil, mas por que era assim que deveria ser, um peito apaixonado, amando fala mais alto quando traz junto das verdade uma lagrima para lubrificar a vida....
Suas mãos apertaram forte um pequeno pedaço de papel, um guardanapo na verdade, e nele alguns desenhos e rabiscos... mas para ela era a lembrança de como tudo começou...
- Queria que estivesse aqui... – disse ela...e completou.... – Mas é impossível... você não pode...

Sua cabeça abaixou e o pequeno pedaço de papel foi levado pelo vento... ele se fora de vez... A rocha agora, como um ciclo liberava o calor materno e amoroso que o sol lhe dera durante o dia, ela agora... recolhia das lembranças o mesmo calor... porem... amanha a rocha teria novamente o sol... e ela... nunca mais o veria...
Com o vento nos cabelos, e o pequeno guardanapo flutuando como gaivota ele se lembrou, do gesto simples de dizer “adeus” das frases, das verdades... e principalmente se lembrou das tantas vezes que ele disse “te amo” depois da primeira...
Mas o sol se punha... e agora era noite pra ela... iluminada apenas pela luz da lua... refletindo as memórias de um sol.. e os pontinhos felizes... “minha estrela solitária” ... sorriu ela ao lembrar...
E depois... bem... depois era noite... e as lembranças sempre vivem nesta hora...

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