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Olhou a foto uma vez mais, não conseguia evitar, a mais de uma semana ele tinha encontrado a foto em um banco no metrô, e desde então se encantava mais e mais pela jovem na foto, e hoje olhava a foto já sentindo-se profundo sentimento, mas ele nunca tinha ouvido sua voz, nem sentindo seu perfume... sabia apenas do que via na foto.
Uma jovem de cabelos negros, com alguns fios caindo por sobre o olho, um sorriso tímido a mão apoiada na mesa, umas cartas de baralho, a camisa branca, o aparelho de som no fundo, a capa de discos próximo ao som, o reflexo no espelho com o brilho do flash e a imagem da TV com uma cena de filme, a cada pequeno detalhe que ele via na foto mais e mais se apaixonava, mais e mais se via preso a vontade de conhecer a pessoa da foto.
Ele não sabia se os discos, se o filme em fim se era a casa dela ou de algum amigo se era uma festa ou apenas um encontro com alguém, mas a forma como ela sorria na foto dava paz a ele, o fazia sentir-se mais vivo.
Ele caminhava com a foto gravada em sua mente todos os dias, pegava o metrô na mesma hora, sempre no mesmo sentido, mas... e se ela estivesse no sentido contrario? E se ela saltasse uma estação antes? Ele nunca a veria. Ele nunca iria encontrar com ela? A noite parecia mais longa depois desse pensamento, mas a foto... e um detalhe a mais. Quase fora da foto, um pequeno pedaço de papel, a lupa aproxima e no papel além de desenhos de flores alguns números, e o nome ... agora ele sabe o nome ou acha que sabe...
A foto para no peito dele que agora deitado olha o teto na esperança de sonhar com ela... e quem sabem em sonhos perguntar se é mesmo o nome dela.
A manhã seguinte, as horas de trabalho e a cada momento livre ele vislumbra a foto, e novos detalhes, saltam a foto, o pescoço delgado, a pele branca, os lábios em sorriso tímido, os olhos sorrindo tanto ou mais que os lábios. Ele sempre olhando os olhos não percebeu o cordão, um cordão que o lembrava a sua mãe, um coração solitário em estilo celta preso a uma corrente de prata... e ele sorri.
A lente corre toda a foto e no aparelho de som esta tocando U2, “ With or without you” a TV uma cena de “Em algum lugar do passado” e ele mais ainda se encanta por essa mulher que nunca viu mas a tanto tempo espera conhecer...
O dia de trabalho termina, ele olhando a foto caminha até o metrô, sem perceber, caminha para o lado oposto ao de sempre, instintivamente entra no vagão ainda olhando a foto, sorrindo bobo e tolo uma duas 3 estações depois ele percebe que esta no sentido errado...
Olha a volta o vagão cheio, e ele mudamente sente vergonha de estar tão apaixonado por alguém que ele não conhece, a foto agora parece mais um símbolo de sua fragilidade, de seu romantismo tolo.
-“quem pode se apaixonar por uma foto? Onde é que eu estou vivendo? Em um filme?” pensa ele ao descer e caminhar para o outro lado da estação.
“ Não faz sentido isso, achei uma foto no metro e agora estou apaixonado, por alguém que nem sei se mora nessa cidade, nem sei se é casada, ou se o nome é mesmo dela... “
o som agudo do metro avisando a porta se fechar o traz de volta a realidade e ele entra, não tem lugar para sentar, claro, ele esta 4 estações antes da estação que sempre pega o metrô
caminha até o cento do vagão, a foto em sua mão, ele olha uma vez mais... e quando pensa colocar no bolso... a foto cai.
Ele respira fundo e em certo momento olhando a janela escura do metro, com os feches de luz no reflexo vê a jovem menina de cabelos negros, sentada sorrindo ao ler um livro... a mão busca a foto, mas o bolso vazio o faz pensar que é tudo um sonho, ele se vira ve a foto no chão e enquanto abaixa para pegar as mãos delgadas da jovem são mais rápidas ela estende para ele mas olha a foto de relance... e se reconhece..
Os dois se olham, ele sorri um tanto envergonhado e diz pela primeira vez o nome dela em voz alta ela acena positivamente com a cabeça, e por mais 6 estações eles conversão, ela perdeu a foto um mês atrás, usava como marcador de livro, a foto do dia que se reuniu com amigas em sua casa para jogar poker, ver filme e ouvir boa musica.. ele pergunta do cordão, e ela assume que foi um presente de sua mãe que ela poucas vezes usou ele, mas aquele dia sentiu muita vontade... e se espanta com os detalhes que ele percebeu na foto... meses depois ele confessa a ela em um telefonema, que já estava apaixonado por ela antes mesmo de ouvir a voz dela... e que só esperava o dia de poder dizer isso olhando nos olhos dela...
A foto agora que anda em seu bolso é a do jovem casal trocando beijos e alianças.

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