Ford Maverick GT 1979

Ele entrou no carro, colocou o cinto mais por costume do que por preocupação com sua segurança, o radio ligou assim que ele deu partida, e voltou a tocar sua seleção de musica, o som de “The Best of you” dos foofighters encheu seus ouvidos e agora a estrada a frente parecia muito mais vazia do que ele pensava, a parada no posto foi providencial, a água já tinha acabado e a viagem ainda era longa, mas com a voz de Dave Grohl aos berros o fazia pensar se ele tinha dado o melhor dele, ou se alguém tinha tomado dele seu melhor.
Seus pensamentos estavam viajando muito mais rápido que ele, como de costume os pensamentos não esperam o tempo ou a hora certa de acontecer, e de certo os seus estavam a milhas a sua frente, e sem perceber já ultrapassava o limite de velocidade permitido. “Realmente Best of you tira a gente do chão” – pensou ele diminuindo o peso no pedal do acelerador e depois reduzindo uma marcha, a seu lado apenas o banco vazio do carona, no banco de trás, uma mochila velha rasgada e suja, no porta mala um ou outro cd, o motor do velho Ford Maverick GT 1979 roncava alto na estrada e ele apenas ouvia os acordes do grupo de guerreiros tolos ir diminuindo e por fim iniciando uma próxima musica, “razor” pensou ele nos primeiros acordes, “agora eu vou acabar a 20km/h no acostamento... ou corto meus pulsos” pensou trocando a faixa para a próxima, mas seus pensamentos novamente o fez de tartaruga e logo ele estava procurando uma musica em especial...
Logo o som da bateria, baixo e por fim guitarra tomavam conta do carro cada acorde uma vontade de cantar crescia e por fim ele começou a cantar tendo como companheiro novamente o Dave Grohl, my hero sempre o fazia pensar nas escolhas que tinha feito, nas pessoas que tinha deixado, e as pessoas que o tinha abando, principalmente as pessoas importantes para ele, lembrou-se do dia em que seu pai pois a mão em seu ombro pela ultima vez, ou de quando perdeu seu amigo na queda do avião, eram eles seus heróis... eles tinham feito as escolhas certas?... e por fim como um toque tolo do velho destino, “All my life” começa com os gritos histéricos da platéia ao reconhecer os primeiros acordes , e como rasteira ele deixa os pensamentos de outros pensa nele...
“estou de novo procurando alguma coisa que eu nunca vou conseguir.... “ e pois o pé fundo no acelerador, depois subiu uma marcha a mais, e depois outra... o velocímetro seguia a vontade implícita na musica ser maior e mais forte... pouco a pouco ele foi alcançando seus pensamentos, pouco a pouco as milhas foram diminuindo.
A certas coisas que não cabem em uma musica... em linhas ou em cores... apenas um pequeno espaço de uma vida pode fazer algum sentido... e mesmo assim só se tem a visão completa do quadro pintado no momento em que ele esta pronto, ou no caso da vida, no ultimo segundo dela... e ele pensou “acho que a minha foi em vão” ele não chegou a seu destino, mas também não adiantaria o que ele buscava não podia ser alcançado como uma distancia a ser percorrida... o tempo não volta... nem se a gente correr muito...

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