Um dia lento

O fone de ouvido o isolava do mudo a sua volta, chuck Barry em seus acordes de Jonny b. Good eram como entorpecentes, o colocava em outro universo, um mundo diferente, quem sabe uma vida diferente da dele.
As estações de metrô passavam embora rapidamente para quem estivesse plugado no mundo certo, para ele ainda eram lentas e tediosas, sempre os mesmos rostos, sempre os mesmos movimentos padronizados, e ele pensava, se era só ele que estava em um mundo paralelo ou era normal sentir-se assim... e ser assim nesse mundo.
A voz rouca de uma mulher agora cantava em sua cabeça, Andrea, do CMTN, “fique a vontade meu bem, sinta a vontade de ficar, não tenha presa, quem sabe aqui é teu lugar? Mas se tiver de ir, vê se não vai assim sem mim...” ele ruminava pensamentos que nunca foram digeridos, regurgitava e os engolia novamente... e sempre sentia isso, sempre a via em seus pensamentos, sempre arrumando o cabelo, sempre sorrindo, sempre caminhando a seu lado... mas nunca estava de fato... e quando seus olhos começavam a dar mostra dessa cinzenta tristeza que trazia em seu peito sentiu a ponta fina de alguns dedos tocarem seu braço... e La estava ela, ele tira o fone, e automaticamente volta a realidade, mas a voz dela em meio aos sons do metrô parece ter o mesmo efeito que a musica... o leva a um outro mundo.
- Te chamei 3 vezes... você não me ouvia... tive que te cutucar – ela sorri encabuladamente, mas mantendo a imagem de que não estava.
- Eu estava desligado – Disse ele dizendo uma verdade simbólica, - Quanto tempo né? Tudo bem com você?
- Sim tudo bem, e você? Parece bem, até feliz eu acho!? – Disse olhando nos olhos dele, que agora brilhavam como a muito não o faziam.
- Na Verdade eu tenho apenas vivido, nada de mais... só vivido.
- Nossa, a gente não se fala a tanto tempo... saudades de nossos papos... sempre eram loucos não ficavam presos a um assunto apenas.
-É... as mentes livres são assim...
-... Você ainda esta desconfortável não é? - Perguntou ela.
-Não chega a ser desconforto... estou muito feliz em te ver... você não faz idéia... pensava em você a pouco... se estava bem, e como estava sua vida... se o tempo tinha sido bom pra ti.
- Eu to bem... a minha vida ta bem... mas esse velho.. tempo... bem ele ta sempre dando as voltas dele né?
- É pois é... Dizem que o tempo cura tudo né? Que apaga tudo
-Sim ele é um ótimo remédio.
- É mas pra mim ele não tem esse efeito, O tempo só tem servido pra me lembrar que você não esta comigo, se o tempo apaga... o meu só tem me feito sentir falta... se ele cura... o meu só tem posto farpas... se o tempo faz a gente mudar o foco... o meu tem sido um farol... e só me mostra você... desde aquela ultimo dia...
- ... você não pode estar falando sério...
- Estou... O mais serio que posso... Pena que Nosso tempo nunca chegou...
- é... diferente da minha estação... tenho que ir... Posso te ligar?
- Sim... embora eu saiba que isso nunca vai acontecer

Ela salta do vagão, ele olhando pela janela, coloca seu fone no exato momento em que a Andrea do canto dos malditos da terra do nunca começa a cantar “olha a minha cara”... e embora ele passasse os próximos dias esperando um telefonema... nunca aconteceu...

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