Polegar.

O Velho senhor sentado no sofá olhava atentamente o telefone que a muito não tocava, já se passava das 11h mas ele esperava que ela ligasse, ela tinha prometido... e ela havia ensinado que não se quebra uma promessa, nunca se diz algo e não se faz..
Ele levantou-se dolorosamente e caminhou até a estante, pegou um velho álbum de fotos, e iniciou sua releitura da vida... foto a foto, legenda por legenda... ele foi viajando no tempo.. quando conheceu sua esposa, a primeira viagem, o dia em que pediu ela em casamento em um parque da cidade... as fotos em família e a barriga com sua única filha...
Depois disso o álbum tomou um ar menos alegre... e ele partiu para uma de suas fotos favoritas. Ele e ela de mãos dadas no parque ela de vestidinho rosa e branco e ele sorrindo como nunca...
Uma olhada no relógio e já são quase meia noite... ele pensa em pegar o telefone mas...
Na porta entra a menina de cabelos castanhos e olhos tão brilhantes como na foto... um sorriso de surpresa escapa aos olhos na mesma hora que uma lagrima de alegria corre o rosto.
- OI pai - diz ela sorrindo... – EU prometi ligar mas preferi vir pessoalmente.
Dito isso ele desandou em lagrimas, vir de tão longe para estar ao lado dele um dia comum, é mais do que seu velho coração podia agüentar.
A conversa correu lentamente por horas e horas, e pouco se importavam se o dia seguinte já gritava as janelas eles queriam apenas estar ali... juntos... Pai e filha compartilhando o momento...
Ela pega o velho álbum e vê a foto fora de posição, a foto do parque...
- O senhor gosta dessa foto né?
- Adoro... é a melhor foto do álbum...
-Por que?
- A gente estava no parque, você tremia de medo dos bichos que passavam perto da gente, mas sempre que me olhava com seus olhos medrosos e eu te sorria você me fazia voltar no tempo.
- Como assim pai - disse ela abraçando o velho senhor
- Quando você me via sorrindo, você apertava minha mão... tão forte mas tão forte e de uma forma tão mágica que eu sentia a mão de sua mãe na minha...
- O senhor sentia como?
- Sentia não apenas a falta que ela me faz... mas sentia a falta que o Polegar dela nas costas de minha mão me faz... ele me fazia como você ao apertar... me fazia me sentir mais confiante.
Ela olha o velho senhor nos olhos como náufragos em sentimentos... e diz
- Sinto falta de apertar a sua mão Pai...
- Eu sinto falta de sorrir pra ti filha....
Naquela manha. Noite ou dia... não se pode dizer que ninguém chorou ou sorriu... mas ambos sentiram a falta de um simples polegar nas costas da mão....

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