cumplicidade

Eles se olharam uma ultima vez, antes que o silencio terminasse, antes que voltassem a estourar farpas um na face do outro... ela o observou passar a mão pela cabeça e os dedos enterrando-se nos cabelos negros dele, até sentiu vontade de fazer ela mesmo aquilo mas calou-se quando percebeu que ele tinha os olhos fundos em lagrimas.
-Você quem sabe. – Disse ele mantendo os olhos baixos – Não posso e nem vou ficar aqui contando tudo que já sabe, e nem vou ficar indo atrás de ti, toda vez que tento te fazer uma coisa me responde sempre da mesma forma, toda vez que tento te abraçar, me aproximar você vira esse porquinho espinho e sou sempre eu que estou errado...
- E vai me dizer que não esta?! – interromper ela levantando-se rapidamente do sofá mas parou e apenas suspirou pesadamente.
- ... Eu não disse que estou certo... aliais dessa vez, diferente das outras eu sei que estou bem errado... talvez até mais do que o de costume... mas você pede pra eu ver seu lado, me por no seu lugar, e você se pois no meu!?
Essa frase a fez penar... ela pensou no que ele sentia? Será que ela estava agindo certo mesmo? Ou será que os dois estavam errados?
-O que eu tenho que levar em consideração vindo de você? Por favor me diz, por que eu tenho que me colocar em seu lugar? Você não pensou, agiu sem pensar... e porque isso?
Ele levantou os olhos e a viu de frente a janela, a luz da rua entrava por ela em um tom alaranjado o que fazia suas mechas ganharem uma cor mais vida e seus olhos... seu olhos ficarem inda mais encantadores, ele quase a abraçou, mas calou-se vendo ela virar baixar a cabeça enquanto uma lagrima corria sua face.
-Eu Não sei o que te dizer... Tinha mil motivos para fazer o que fiz , mas estes motivos são meus, frutos de meus sonhos loucos... frutos de um sentimento que nunca consegui segurar, dominar ou apagar... e por isso fiz o que fiz... mas como disse.. você que sabe... eu não vou dizer mais nada.
-Acho bom mesmo... Cada vez que fala é pior... diz coisas que não faz sentido, nem mesmo se fossem ditas por uma criança, você não tem noção de como me fez infeliz, de como eu estou me sentindo nesse exato momento, de como eu gostava mas agora odeio pensar e lembrar que a gente se fala por minha culpa... como pude ser tão inocente, infantil e acreditar em você ... de novo?!
Ela dizia as palavras mais duras que conseguia pensar e as atirava sobre ele, e ele despido de desculpas e com o peito a mostra pela culpa aceitava as verdades como flechas, facas... e cada ponto, cada virgula, tudo doía como mil punhais... ele levantou-se tentando afastar um pouco a dor e caminhou para o outro canto da sala... olhando as fotos no aparador, as contas e o tapete que no espaço entre um pé e outro agora tinha uma mancha de lagrimas.
- Você diz que não sei como esta se sentindo agora... diz que o que digo não faz sentido e que te fiz infeliz... bem... acredite... eu sei bem o que você esta sentido... Da ultima vez eu fiquei sozinho enquanto você foi cuidar de sua vida, foi morar fora... foi atrás de seus sonhos, foi eu que fiquei aqui sozinho, da ultima vez por longos anos eu que chorei sua falta, eu sei bem como você se sente nesse momento... mas você pensou em como eu me sentia antes?
- Seria mais fácil se você aprendesse a separar tudo... você confunde o que falo.
-É ... é fácil para você agora? Por que não foi fácil pra mim perder quem eu amava antes, não foi e não é fácil ter lembranças unicamente em minha mente, você viveu sua vida... aproveitou o que pode, fez o que quis... eu ... eu nem sei se existia.
- Você que fez isso com você, eu não te pedi nada, eu nunca te pedi nada... quer dizer... pedia para você ter cuidado e se entender... mas....
-Mas eu nunca fiz isso, e sim você nunca me pediu nada, também não pediu para eu me apaixonar por você, também não pediu para me conhecer mas aconteceu... E o que aconteceu depois disso é sim um misto de culpa e reconhecimento do que estes atos foram, ou são ao menos para um de nós... Eu não só quero que me diga...
- Dizer o que?
- Me diga se realmente quer que eu suma de sua vida? Que vá embora e não apareça nunca mais... por que é isso que sua boca me diz... mas não sei se é o que você realmente quer.
-Vai... Me deixa... Não fale comigo mais... nunca mais... Acho melhor assim. – disse e repetiu uma vez mais.
- Ok... –Respondeu ele pegando sua mochila - Eu vou... e como te disse da ultima vez, eu digo de novo... Eu vou te ter sempre comigo... mesmo que não seja ao vivo... mas vai ser sempre viva em minhas lembranças... você é a melhor pessoa que já passou por minha vida...
A portas se fechou em suas costas e ele desceu os lances de escada e tomou a rua... e lá fora o dia parecia compactuar com ele... ao menos em lagrimas...

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