Seu tempo acabou.

Ele deitou-se enquanto o senhor arrumava a mesa atrás dele, logo o som do relógio tomou conta do ambiente, e o o tic-tac, tic-tac, tic-tac, ritmava a respiração sem nem se fazer perceber, O senhor sentou-se na poltrona fora do ângulo de visão do jovem apoiou o pequeno caderno na coxa e então perguntou.
- Conte-me, o que foi que aconteceu de tão triste assim?
O jovem suspirou pesadamente, quis sentar-se e olhar nos olhos do senhor, mas as outras tantas vezes que foi repreendido o saltou a mente e ele apenas colocou as mãos na nuca e começou a falar.
- Quando a conheci eu achei que eu me controlava bem, não deixava ninguém entrar em minha vida, eu estava mesmo disposto a ser como todo mundo, um cara comum como tantos que andam por ai nas ruas... estava me protegendo, podia até parecer que não mas estava... o senhor sabe, tinha acontecido tanta coisa nos anos anteriores que e eu não acreditava mais em ninguém... até que encontrei ela...
- Ela?
- Sim.. ela.. foi meio que sem querer... na verdade totalmente sem querer... ela me disse que tantas vezes que não valia a pena eu apostar nela, por que... bem por que ela tinha uma história complicada... mas eu não conseguia evitar... e pouco a pouco eu fui sendo invadido por ela...
-Fale-me melhor sobre essa “ela”.
- Quando a vi a primeira vez, foi meio estranho... não a conhecia, nem se quer tinha contato direito com ela, mas a intimidade foi instantânea, a gente se falou, e acabamos indo a um bar, sentados falamos tantas coisas, sobre nos mesmos... ela me contou sobre ela, e o que tinha achado de mim, que minha primeira impressão não foi das melhores graças a um amigo em comum, mas depois ela viu como eu sou... eu contei de mim... ridiculamente abri todo meu peito no primeiro minuto, me desnudei... eu que queria me proteger... me descuidava.
- entendo ... prossiga
- A gente teve bons momentos juntos, aquela noite se estendeu um pouco, e logo estávamos andando de mãos dadas, eu ainda sinto o abraço dela... e os pés Dela cruzando por trás de minha perna enquanto conversávamos com conhecidos, ainda sinto o perfume.....
- Memórias são engraçadas, você se lembra de alguma coisa ruim desse dia?
- Sim... as 0h ela teve que ir embora.
-Há... síndrome de cinderela?
- Não... ela morava longe mesmo... depois disso a gente se encontrou de novo, e de novo.. e de novo até que um dia ela me disse que não queria mais...
- Te deu motivo?
- inúmeros... mas eu dei apenas 1 e ela continuou comigo... a gente tinha uma intimidade ancestral, nos falávamos como se já fossemos conhecidos de milhares de anos, eu entendia ela sem que ela precisasse falar nada... mas...
-Mas?
- Mas a gente acabou se desentendendo, eu tive meu papel de louco, ela teve o papel dela, e quando eu pensava que tinha sorte... me foi tirado a força... já faz tanto tempo que eu não a vejo, mas ainda hoje quando chego em casa... ainda sinto saudade e falta dela.
- Esse tempo todo você não esqueceu? Não desistiu?
-Não... eu passo todo tempo pensando que poderia voltar no tempo...
-E mudaria algo?
-Não, se eu pudesse eu faria tudo novamente, abriria a guarda de novo, seria o melhor e não teria medo de me entregar a ela, sabe. Covardia nunca foi uma característica minha, eu sempre enfrentei tudo, e não tenho medo de assumir a culpa de um erro ou dois, e nem tenho medo de tentar se feliz, nem que seja por pouco tempo, nem que seja por um momento tão curto se comparado a vida.
- E você ainda se sente vazio?
-Eu tenho que me sentir vazio... se tudo que eu sempre soube que me completaria esta com ela... e ela... esta agora longe... talvez nos braços de outro...
- E ainda assim você chega em casa e sente saudades dela? Não parece justo não é mesmo?
- E quem disse que o amor é justo? O amor é louco... cego, fogo, mas justo? A única coisa que o amor e a justiça tem em comum é a falta de visão...
O relógio toca e o senhor diz
- Seu tempo acabou...

Comentários

Postagens mais visitadas