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Ela chegava em casa ainda carregando o peso da semana nos ombros, os problemas e duvidas não tinham ido embora mesmo com as cervejas e as amigas no bar próximo ao trabalho, O Transito congestionado, as buzinas as cortadas e paradas bruscas só serviram para pesar ainda mais em seus ombros, e depois disso, depois de tudo isso ela ainda enfrentaria um apartamento vazio e frio.
O porteiro sorrindo como de costume fingindo uma simpatia que era completamente antagônica a sua postura normal a fazia ter ainda mais dores nos ombros, a senhora que puxava seu cão pela coleira com passos lentos só a fazia pensar que se ELA fosse pela entrada de serviço já estaria em casa, no sofá, entulhando-se de chocolates e filmes ou seriados.
A caixa de correio vazia, nem se quer uma propaganda para fazer ela pensar que é lembrada por alguém... os longos minutos de espera no hall esperando o elevador ao lado da senhora que falava o tempo todo sem usar de virgulas ou pontos a fez ter certeza de que era preciso parar e respirar... só um pouco... um pouco para relaxar.
Ela sobe seus andares caminha até a porta, agradecendo por ter saído do inferno claustrofóbico que foi o elevador ao lado de um poodle e uma senhora tagarela. Ao abrir a porta um pequeno envelope feito a mão em papel reciclado pode ser visto no chão...
Sem remente, apenas com uma frase no destinatário...
“Ao Grande amor de minha vida”
Abriu tremula por ansiedade começou a ler a carta.
“Princesa
Sim eu entendo que tudo tem que ter um fim, e aqui sentado sozinho eu me pergunto se tenho como deixar ir, ou me deixar ir, e mesmo não vendo isso agora eu acho que eu fui um cara de sorte por ter tocado com essas mãos a mulher que amo, e tanta gente passa a vida sem nem ter visto a imagem de alguém assim...
Eu queria dizer para você ficar comigo, só mais um pouco, eu te prometeria café da manhã com tudo que tu gosta, uma tarde vendo o sol se por, ou um passeio de mãos dadas, mas se eu disser que quero... se eu disser que preciso isso não muda nada.
Sempre que eu penso como seria minha vida, e como eu gostaria que fosse, eu sempre me vejo a teu lado, você apertando minha mão, ou sorrindo por de trás dos cabelos, sempre me lembro do peso de sua cabeça em meu peito, e de seu perfume em meu nariz...

Hoje é uma data ruim sabia? É ... hoje é a data que te vi escorrer entre meus dedos...
Eu sei que cometi muito erros, e muitos pecados, mas eles me ensinaram a ser quem sou, e me ajudaram a montar meu caráter, seja como for... Eu não quero mais causar dor, e nem sentir dor, mas a tanta coisa nesse mundo que nos fere...
Eu já disse que te quero? Eu já disse que preciso de você?
É talvez eu esteja sendo um idiota mesmo, afinal de contas eu to me abrindo pra você, e nem sei se você ainda esta ai segurando esse papel...
Eu queria muito ter você comigo em meus braços até seu ultimo suspiro...
eu queria muito isso... mas querer nem sempre é poder... e eu só posso esperar que esteja feliz... onde quer que seja...”

Ela dobra a carta, colocando novamente no envelope e suspira...
“ele e as datas...” pensa ela guardando a carta junto com as outras em uma caixa de sapatos no fundo do armário...
“ele e as datas....” pensa ela mais uma vez antes de perceber que não tem mais peso nos ombros...e um sorriso no rosto... um triste sorriso no rosto.

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