Let it be...

Hoje eu não vou contar uma história inventada, nem tão pouco extravasar uma raiva... vou deixar uma tristeza sair em forma de relato real.
Eu lembro bem dela, tinha um sotaque diferente, afinal vinha de floripa, adorava surfar, adorava o mar, e adorava ser dentista, passávamos horas ao telefone, a gente se falava tanto que a cada promoção que alguma operadora fazia a gente entrava junto, falávamos até acabar a bateria, e as vezes, varamos a noite falando com o telefone no carregador... um tentando enganar o outro...
Fora o clichê de filme romântico a gente viu sim um monte de filmes juntos pelo telefone, falávamos e riamos das histórias da vida um do outro, nos emocionávamos e criticávamos com atitudes que o outro tomou... e muitas vezes nos ligávamos sem motivo aparente e encontrávamos na voz torta do outro lado a razão.
De uns tempos pra cá as coisas foram ficando mais complicadas, ela que já tinha um problema de saúde foi tendo crises maiores e por fim... passou um longo período internada, lembro que algumas vezes umas escapadinhas para telefonar ou mandar recadinhos por sms ou e-mail eram vistos como grandes “aventuras” em fim a gente brincava com tudo e brigava por nada...
Erramos amigos, grandes amigos, do tipo raro de amigo que não se importa em te dizer na cara que você fez besteira, ou que não quer saber se vai ser mal entendido em dizer algo, e sim do tipo de amigo que fala a verdade por que sabe que é o melhor, do tipo de amigo que pode sentar no sofá a km de distancia e por um aparelho ridículo ter momentos tão especiais como se estivéssemos ladeados.
Certa vez, quando eu, muitas vezes eu, reclamava de problemas ela ria e falava uma única coisa “vc acha que tem problemas?” e eu me calava... outras quando ela atendia o telefone com uma voz triste e cansada eu apenas fazia de tudo para animar e algumas vezes o fiz.

Certa noite ela me ligou, eram pouco mais de 11h da noite, ela me ligou e começamos a falar sobre tudo, o que era comum, e por fim decidimos ouvir musica juntos, cada um colocava uma e a gente fazia nossa interpretação das letras... rimos tanto que minha barriga doeu por uns 2 dias, no fim pouco antes das 3 da manhã a gente ouviu uma musica dela, “let it be”. Tantas risadas depois e sacanagens com a tradução e o sentido oculto de “Madre Mary” a ela me fala o ouvido com a sua voz que nunca vou esquecer.
"Todas as interpretações são ótimas, mas a que eu mais gosto é a minha, pra mim a "madre mary" são meus amigos que sempre me socorrem nos momentos de problemas e duvidas, sempre tem frases de apoio, você é uma “madre Mary” pra mim” confesso que zoei ela que rimos mais um pouco e fomos dormir.
Mas tempos depois, eu reparei na importância do que ela disse, e como ela também era pra mim uma “madre Mary” me tirava as duvidas, me socorria em momentos de problemas e dores, e sempre... sempre tinha frases com sabedoria pra me dizer...
Sinto sim a falta dela, por que hoje quando pensei em ligar para alguém e chorar ao ombro, quem eu penso em ligar não é possível e quem eu poderia ligar nunca mais ira me atender...
bem... eu estou de luto... e Let it be...
Beijos paixão sem dono... beijos e vai com deus... vai surfar nas ondinhas das nuvens.

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E eu Choro muito ainda aqui... =´(

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