U T I
O Café era a única coisa que o aquecia na noite, as longas horas esperando uma resposta haviam pesado em seu corpo que todos os anos que vivera até então, o corredor cheirando a algum produto de limpeza, as pessoas desconhecidas e os olhares complacentes eram tudo que ele vira nos últimos dias, mas aquelas ultimas hora eram ainda piores.
- Ela quer ver o Senhor. – Disse uma enfermeira de olhos castanhos que lembravam os olhos da única mulher que ele amou verdadeiramente, - O senhor pode ir vela agora se quiser, mas não pode demorar muito, ela ainda esta muito cansada.
Ele acenou levemente com a cabeça e depositou o copo pela metade de café na no balcão próximo a ele, os passos eram lentos, não pele idade, mas para dar tempo a ele mesmo de digerir o que tinha acontecido...
Sentou-se ao lado da cama e segurando de leve a ponta dos dedos da pequena menina sussurrou baixo “Oi princesa, estou aqui” os olhos anestesiados dela piscaram uma duas vezes até que um leve sorriso se fez em seus lábios.
- Pai!
- Sim princesa sou eu.
- Por que esta chorando?
- Saudades minha linda, saudades.
- Não quero ver o senhor chorando nunca...
- Tudo bem amor... eu me controlo ta?
- Ta, pai...
-O que foi princesa? Quer um outro cobertor?
-Não... eu só queria ta fazer uma pergunta.
- faz, to aqui.
- Me fala mais da mamãe?
Ele abaixou a cabeça e deu um leve afago na mão dela e entre lagrimas respondeu.
- Ela era uma Guerreira, sabe... Sorria o tempo todo, e quando não podia sorrir ela se forçava a sorrir só para confortar quem estava perto... sua mãe me dava sustos, muitas vezes quando chegava em casa ela estava escondida só para me dar susto...
-O que foi pai?
- ... é que você faz igual a ela, sempre me da sustos.
A jovem menina sorri, e olhando nos olhos dele continua a ouvir que ele diz.
- Ela cantava as vezes, na maioria das vezes quando estava feliz, mas quando algo a desagradava ela cantava baixinho quase como um sussurro... era assim que eu percebia que ela não estava bem, sabe... ela costumava cantar pra você dormir.
- Eu não lembro.
- Claro que não filha, você era muito nova... ela que te apelidou de princesa.
- mesmo?
- Sim, uma manhã de domingo você estava na sua cadeirinha ela olhou pra você toda cheia de pose na cadeira e disse “Amor, a gente tem uma princesa em casa” e você riu quando ela falou isso e ria toda vez que ela te chamava de princesa, ai ficou... a nossa princesa.
- Eu lembro da ultima vez que ela me chamou assim...
-Não pode filha, você era muito novinha ainda.
- estranho mas eu lembro da voz dela...
- A voz dela era linda... inesquecível mesmo... Mas princesa você tem que descansar. Depois a gente fala mais.
- Pai?
- O que princesa?
- O que o senhor gostaria de dizer pra mamãe? Algo que o senhor não disse
- ...
- Pai?
-Eu diria que estou com saudades, e que cada dia sem ela tem sido triste e que eu só tenho conseguido suportar eles por que ela me deixou você, me deixou a princesa para cuidar, diria que eu a amo muito mas que você é a minha paixão.
- ... pai... ela vai gostar de ouvir isso...
-...Princesa?
-....
-Princesa!!??
O som continuo e agudo toma conta do quarto e antes que ele diga uma terceira vez os médicos se aglutinam sobre a pequena menina falando dosagens e procedimentos, e no corredor ele chorava, e antes que o médio o desse a noticia ele já sabia que sua pequena princesa havia partido... e que ele estava agora mais só do que nunca.
Comentários