Era uma vez.

Ele estava ali, novamente, de fronte ao seu terrível mal, e não era nem um grande monstro ou um maléfico homem, era apenas uma folha em branco. Uma simples folha em branco o fazia tremer, e temer, em suas costas as ondas de arrepio se seguiam e em sua mente um turbilhão de idéias...
E era esse seu medo... se perder nesse emaranhado de idéias e assim perder todas elas, ecoavam ainda em seus ouvidos as frases ditas tantas vezes por seu mestre em redigir, “ organização de idéias é a chave para um bom conto” mas ele se perdia, ele por si só ocupava dois lugares, era leitor e redator.
E como redator criava as cenas, imaginava muitas vezes até fotograficamente seus textos, e a cada canto um detalhe pessoal ou singular punha, mas como leitor, se encantava com esse mundo, e sempre pedindo mais e mais, punha o leitor em sinuca de bico...
Escrever para ele ou escrever para o mundo?
Duvidas e junto com as duvidas a mão tremia, e a caneta traçava círculos ou então batia ritmada mente apressado no papel. Os olhos se fecham, como um cantor buscando ar para começar a próxima estrofe e verso da musica, então o estalido.
Os olhos se abrem, e as linhas vão brotando, frase após frase, crase, acento, aposto, metonímias e aliterações, e junto com todas as ferramentas e trejeitos vem um texto, um sorriso e um conto...
Ele, sentado em sua escrivaninha, cumprindo com seu dever escolar, também cumpria com sua vontade única, seu desejo mais intimo de criar um mundo.
Ele, ali escrevendo as 100 linhas pedidas contava não como fora suas férias , ele contava um conto do mundo que mais visitava, das idéias que mais se repetiam.
Ele, ali caneta, abajur, folha pautada e já no meio das 50 linhas escrevia sobre coragem, vontade, bravura e amor.
Este pequeno menino que batia a caneta no papel buscando uma idéia coesa, reta, e pronta. Agora criava seus contos de cavaleiros e dragões.. esse menino nunca deixou de ser menino...
E hoje velho, sentado a frente de uma tela branca se lembra saudoso dos dias de menino em que escrevia contos, em um mundo em que era muito fácil ser bom, honesto e justo...
Bastava ter uma espada, uma armadura e coragem para enfrentar os desafios de frente...
Como ele enfrentou a folha ontem e a tela hoje.
Quem sabe um dia eu poste aqui os contos de “ Era uma vez” escritos por ele..
Quem sabe assim volte a ser eu também uma criança e enfrente mais facilmente esse mundo de sombras.
Mas por hoje...deixo apenas uma frase... e peço que deixe ela brotar em sua mente o que quiser...
Era uma vez...

Comentários

Heat disse…
Que bonitinho!

Mande um beijo pro menino!
Unknown disse…
Olá Brubs,
Nossa fiquei encantada com os textos!
Encantada... acho que esta é a melhor palavra mesmo...
É de uma sensibilidade incrível...
Fiquei saudosa ao ler... bons tempos do era uma vez...
Agora eu juro comento aqui tá?

Beijos

Raissa Costa
Patrícia disse…
Adorei, o texto lembrou as minhas aflições. É sempre um desafio escrever, nunca é fácil, mas é maravilhoso.
Anônimo disse…
Brubs, sensacional! Sensacional, mesmo! Esse medo da folha em branco ou da tela branca é normal, eu acho... Pelo menos, eu tenho esse medo todos os dias, especialmente agora que inventei de me aventurar nas águas bravias do "oceano" Internet... Navegar é preciso, escrever é preciso... Mas, tem horas que é difícil... Difícil pra valer! A questão de se escrever para si ou para o mundo é outra que fica "pululando" na mente da gente... Tem assuntos que a gente tem vontade de abordar, mas tem receio se quem vai ler vai gostar ou não... É complicado! Parabéns, mas parabéns mesmo! Super texto, super sensível, como alguém já mencionou... Grande abraço, companheiro de palavras, de folhas e de telas em branco...

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