Baú
O velho sótão já cheio de teias e poeira de anos guardava mais do que velharias, em alguns cantos pertences de outras épocas, de quando ele era ainda mais novo, e ele por não agüentar mais olhar ou para apenas livrar espaço para novas coisas punha tudo em caixas ou apenas lançava no sótão, os anos seguintes se encarregavam de empoeirar ou corroer.
Ele subiu a velha escada como quem caminha para a forca, olhares fixos degrau após degrau, e nem era pela idade, e sim receio de como veria novamente as velhas peças de sua vida. Será que o tempo havia sido generoso com todas? E apenas empoeirava? Ou a ferrugem corroeu e as traças devoravam lembrança por lembrança?
A velha maçaneta nem tranca tinha, bastava empurrar mas a tanto tempo ele nem subia as escadas, desde a ultima vez que ela pediu que ele guardasse as caixas de cartas, as ultimas lembranças de uma vida a dois.
Empurrou a porta e ele tão sofrida com o tempo até gemeu, anunciando quem sabe as tristezas por lembrar. Teias de arranha abandonadas, e camadas de poeira beirando o imaginável. “ Vem daí a minha tosse” pensou ele tentando fazer graça consigo mesmo... caminhou até a velha janela já coberta por anos de descuido. Um lenço e o vidro agora deixava a luz entrar com mais força, e esse raio de sol, de luz , pousa cuidadosamente sobre um velho baú, “ Pequenas lembranças nas caixas... grandes lembranças nem caixões” suspirou enquanto ajoelhava próximo ao baú, abriu levemente e viu a poeira escorrer pela tampa como liquida forma de se ver o tempo.
Uma peça de tecido azulada, ou foi azul algum tempo cobria o que existia ali dentro... puxou o pano e seus olhos de súbito turvaram-se, sob o tecido azul, vinha um branco já amarelado pelo tempo, era ele, o vestido de noiva de esposa, ainda inteiro sem traça alguma, ele lembrou-se do dia de Setembro quando de pé ao lado de um padre viu entrar pelo tapete vermelho a prova clara de que existia um deus, e ele mandava um anjo de branco a seu encontro.
Retirou calmamente o vestido, e pousou ele sobre o tecido azul, e virou-se novamente ao baú, uma caixa de papel vermelho brilhante, e dentro dela algumas fotos, “quem são esses?” pensou ele forçando-se a lembrar... virou a foto e ela com os cuidados de sempre escrevia atrás o nome de cada um. Eram seus amigos, os que eles haviam feito juntos anos depois de se casar, “por onde andam essa pessoas? Será que ainda estão juntos? Vivos?” pensou retirando a caixa.
E sob camadas de documentos, fotos de paisagem, ele viu... redescobriu, se encantou novamente, a foto que ela havia lhe dado quando ele teve que ir a outra cidade, escrito na foto apenas uma frase curta.
“ Para que eu fique sempre perto de você” - “ como se fosse impossível né? Você nunca saiu de dentro de mim...”
Percebeu agora que chorou... uma lagrima... a tempos não deixava correr uma sequer de seu rosto... desde ela fora tirada de seus braços por um resfriado agravado por sua certeza de que “ não há de ser nada...” o baú agora mostrava uma verdade um tanto mais terrível.
As cartas trocadas, juras de amor duradouro, promessas de uma vida sorridente, certezas de que tudo estava certo e valia a pena... mas no fim, apenas um pequeno envelope o chamou a atenção, dentro dele um pequeno pedaço de papel, um brasão e escrito em letra de maquina, fria como os tempos modernos, a seguinte frase. Em um telegrama...
“ Lamentamos informar, mas sua esposa veio a falecer hoje, as 17h por pneumonia Crônica.
Nossos sentimentos.”
as forças sumiram de seu corpo por completo, a fria letra roubara lhe também o calor do corpo pela segunda vez... correu mexeu nas cartas a data... batia... era ... o mesmo dia...
Ele recebera a carta de sua esposa escrita e enviada no mesmo dia, mas ele recebera o telegrama antes da carta, e agora releu como uma despedida dela as ultimas linhas.
“ Não digo que sinto sua falta, seria egoísmo meu dizer isso, mas sinto a minha falta de estar a teu lado, Hoje sem você aqui comigo sou apenas saudade, e falta, uma figura realmente incompleta. Sentir saudades suas é inevitável, como é inevitável o final da carta, Beijos de quem Sempre, estará aqui, sentindo sua falta, mesmo que você esteja apenas na cozinha.”
Ele aperta o pequeno papel, e a carta contra o peito, e agora, não consegue conter e corre pelo rosto enrugado tranformando os anos de poeira em poças de lama e lamentos...
“ Foi-se embora minha vida... foi-se embora o grande amor... me deixou saudades, na morte... e eu deixei saudades na vida...”
Hoje, no sótão da casa não se tem apenas lembranças, a quem passe a frente da casa e veja na janela o pequeno circulo limpo, com um lenço, e por trás do circulo, o rosto de um velho homem que chora como criança todas as tarde.
Ele subiu a velha escada como quem caminha para a forca, olhares fixos degrau após degrau, e nem era pela idade, e sim receio de como veria novamente as velhas peças de sua vida. Será que o tempo havia sido generoso com todas? E apenas empoeirava? Ou a ferrugem corroeu e as traças devoravam lembrança por lembrança?
A velha maçaneta nem tranca tinha, bastava empurrar mas a tanto tempo ele nem subia as escadas, desde a ultima vez que ela pediu que ele guardasse as caixas de cartas, as ultimas lembranças de uma vida a dois.
Empurrou a porta e ele tão sofrida com o tempo até gemeu, anunciando quem sabe as tristezas por lembrar. Teias de arranha abandonadas, e camadas de poeira beirando o imaginável. “ Vem daí a minha tosse” pensou ele tentando fazer graça consigo mesmo... caminhou até a velha janela já coberta por anos de descuido. Um lenço e o vidro agora deixava a luz entrar com mais força, e esse raio de sol, de luz , pousa cuidadosamente sobre um velho baú, “ Pequenas lembranças nas caixas... grandes lembranças nem caixões” suspirou enquanto ajoelhava próximo ao baú, abriu levemente e viu a poeira escorrer pela tampa como liquida forma de se ver o tempo.
Uma peça de tecido azulada, ou foi azul algum tempo cobria o que existia ali dentro... puxou o pano e seus olhos de súbito turvaram-se, sob o tecido azul, vinha um branco já amarelado pelo tempo, era ele, o vestido de noiva de esposa, ainda inteiro sem traça alguma, ele lembrou-se do dia de Setembro quando de pé ao lado de um padre viu entrar pelo tapete vermelho a prova clara de que existia um deus, e ele mandava um anjo de branco a seu encontro.
Retirou calmamente o vestido, e pousou ele sobre o tecido azul, e virou-se novamente ao baú, uma caixa de papel vermelho brilhante, e dentro dela algumas fotos, “quem são esses?” pensou ele forçando-se a lembrar... virou a foto e ela com os cuidados de sempre escrevia atrás o nome de cada um. Eram seus amigos, os que eles haviam feito juntos anos depois de se casar, “por onde andam essa pessoas? Será que ainda estão juntos? Vivos?” pensou retirando a caixa.
E sob camadas de documentos, fotos de paisagem, ele viu... redescobriu, se encantou novamente, a foto que ela havia lhe dado quando ele teve que ir a outra cidade, escrito na foto apenas uma frase curta.
“ Para que eu fique sempre perto de você” - “ como se fosse impossível né? Você nunca saiu de dentro de mim...”
Percebeu agora que chorou... uma lagrima... a tempos não deixava correr uma sequer de seu rosto... desde ela fora tirada de seus braços por um resfriado agravado por sua certeza de que “ não há de ser nada...” o baú agora mostrava uma verdade um tanto mais terrível.
As cartas trocadas, juras de amor duradouro, promessas de uma vida sorridente, certezas de que tudo estava certo e valia a pena... mas no fim, apenas um pequeno envelope o chamou a atenção, dentro dele um pequeno pedaço de papel, um brasão e escrito em letra de maquina, fria como os tempos modernos, a seguinte frase. Em um telegrama...
“ Lamentamos informar, mas sua esposa veio a falecer hoje, as 17h por pneumonia Crônica.
Nossos sentimentos.”
as forças sumiram de seu corpo por completo, a fria letra roubara lhe também o calor do corpo pela segunda vez... correu mexeu nas cartas a data... batia... era ... o mesmo dia...
Ele recebera a carta de sua esposa escrita e enviada no mesmo dia, mas ele recebera o telegrama antes da carta, e agora releu como uma despedida dela as ultimas linhas.
“ Não digo que sinto sua falta, seria egoísmo meu dizer isso, mas sinto a minha falta de estar a teu lado, Hoje sem você aqui comigo sou apenas saudade, e falta, uma figura realmente incompleta. Sentir saudades suas é inevitável, como é inevitável o final da carta, Beijos de quem Sempre, estará aqui, sentindo sua falta, mesmo que você esteja apenas na cozinha.”
Ele aperta o pequeno papel, e a carta contra o peito, e agora, não consegue conter e corre pelo rosto enrugado tranformando os anos de poeira em poças de lama e lamentos...
“ Foi-se embora minha vida... foi-se embora o grande amor... me deixou saudades, na morte... e eu deixei saudades na vida...”
Hoje, no sótão da casa não se tem apenas lembranças, a quem passe a frente da casa e veja na janela o pequeno circulo limpo, com um lenço, e por trás do circulo, o rosto de um velho homem que chora como criança todas as tarde.
Comentários
E lindo
!