Ao entardecer

O dia já chegava ao fim e a sala se iluminava com um tom laranja, tornando ela quente, com os tons de madeira dos moveis e as cortinas vinho, a velha poltrona de encosto alto e o puff a frente era o lugar que ele mais gostava de ficar, a pequena mesa ao lado sustentava um ou dois copos, uma xícara de café e um livro ele apoiava a cabeça no encosto enquanto sentia-se aquecer pelo sol suave que batia em seus pés e pernas.
Mas a idade avançada, beirando seus 80 anos e as lembranças de sua vida eram como bolas de gelo em seu peito.. um livro aberto apoiado nas coxas os olhos perdidos no teto e na parede azul escuro, as memórias longe iam e demoravam a voltar... a escada para o segundo andar, e depois o sótão eram um convite, voltar a mexer no velho baú... rever, revirar e reviver os 3 R da sua vida...
Olhando o gato, quase tão velho quanto ele que se esticava nos sol que passava pela janela ele pois seus pensamentos em ordem e tomou coragem... subindo os lances de escada abrindo o baú revirando seu passado
Um pequeno lenço e no canto um tubo... um cilindro de papelão , a mão tremula toca o tubo e ao tirar ele do baú, um pedaço de papel enrolado sai suavemente por uma das extremidades. Um bilhete escrito a tempos atrás por ele mesmo... e uma gota de lagrima rescente...
“ Já faz muito tempo que te prometo isso, hoje aqui no meu trabalho tenho tempo de fazer, ele é único, ninguém tem igual e a cada centímetro dele estão centenas de (eu te amo) que quero te dizer, espero que goste e que esquente seu peito como tem aquecido o meu nessa distancia”
Dentro do tubo enrolado, um grande pedaço de papel e nele, centenas de pontos, milhares de pontos, se amontoam e formam o rosto dela, ela... nova cabelos ondulados olhos vividos e fortes, um sorriso contido... e talvez vendo os pontos, talvez por isso ele comece a se lembrar de cada um deles, de onde fez, e por que fez. E por que demorou tanto a entregar o desenho... ele, velho e cansado apóia a cabeça em uma mão, a outra inconscientemente acaricia o desenho como se isso fosse trazer o calor de sua pele... mas apenas o papel frio... e empoeirado.
Ajoelhado o velho senhor tenta colocar o desenho de volta a embalagem, mas... la dentro algo o impede. Uma outra folha de papel... um pequeno cartão... e nele...
“ Quando recebi esse desenho, meu querido, meu anjo estava longe de mim, trabalhava, lutava para conquistar tudo que sonhávamos e mesmo assim nos poucos momentos que tinha para descansar ele empunhava sua caneta e fazia a minha face em pontos, teria prova maior de amor? Lembro que ele traça meu rosto em qualquer canto de papel... mas esse eu nunca vou mostrar a ninguém, não por vergonha, não por egoísmo... mas porque cada vez que vejo um pontinho lembro dele e meu peito se aperta de saudades, é sem duvida o meu anjo”
Os olhos do velho se enchem, e se estão vermelhos talvez seja pelo calor de seu peito, um calor de saudades, mas um calor vindo inda mais forte das palavras de sua linda e querida que reconhecera mesmo que caladamente o seu amor... mesmo que poucas vezes tenham trocado essa verdade...
Ele desce... agora na parede azul um quadro de pontos em moldura de madeira e protegido por um vidro fino emoldura o rosto de sua amada... eternamente em infinitos pontos... em infinitos “eu te amo”...

Comentários

Jaqueline disse…
Sabe o bacana desse texto? É que a medida que vc vai lendo, as imagens vao surgindo junto; vc passa a ir criando a historia na mente tb. Tão bom qnto tantos outros que andei lendo por aki. Então pra fazer valer o meu comentario de q gostei msm dos textos, aki estou reforçando o comentario! hehe
Beijo

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