Poliglota


O jovem folheava o livro apressadamente, ia e voltava as páginas, coçava a cabeça e voltava a folhear as páginas como quem buscasse ali todo sentido para estar ali, sentado em uma poltrona de classe econômica em seu primeiro voou para fora dos eu país.


- Yamamoto-san, hajimemashite. ( Senhor Yamamoto, prazer em conhece-lo) - Disse o jovem baixinho acreditando que ninguém o ouvia.
- Shikashi, watashi wa Yamamotode wanai, watashinonamaeha Sayuri, soshite kare no akusento wa saikō no hitotsude wanai. - (Mas eu não sou o yamamoto, me chamo Sayuri, e seu sotaque não é dos melhores.) respondeu a senhora que sentava-se ao lado dele, com um sorriso pacato.
- Yurushite… quer dizer… me perdoe… ou melhor… você fala português? - Jovem virava as paginas agora com mais rapidez e uma feição de preocupado..
-Sim falo, até melhor que japonês, e falo alemão também se quiser. - A velha senhora agora arrumava o sua bolsa a baixo da poltrona e o olhava atentamente. - Primeira vez ao Japão?
- Sim sim, primeira vez fora do País,
- Nossa e já quer ir para o outro lado?
- Sim, eu preciso….
- E não sabe muito bem a língua do lugar certo?
- Não, eu sei que vou poder falar inglês, mas acho que falar um pouco a língua local ajuda né?
- Hai.
-… - O jovem folheia o livro e olha para ela com uma certa timidez… - Sim?
- Hai.. isso, sim. Mas me fale… qual o motivo?
- Acho que o único que merece uma viagem ao outro lado do mundo… Mari.
- Mari… nossa que nome lindo, sabe o que significa?
- Sim. Verdadeira razão, perfeição.
- Hai… exatamente.
- Eu quero pedir ela em casamento, mas estou me confundindo em como fazer isso sem ofender o que sinto por ela. Sabe… eu a amo.
- Ai.
- como?
- Ai em japonês é amor, bem é uma forma de amor… me diga… como se sente para sua Mari? E eu digo qual amor deve usar.
O jovem respira fundo… enquanto o avião começa a decolar.





x

- Como eu me sinto…. (diz o jovem olhando para os sapatos)… Como se sente um pássaro voando, livre mas dependente do céu, do vento, eu posso ir a qualquer lugar, mas qualquer lugar deixa de ser qualquer lugar quando estou com ela… eu me sinto feliz, mas com uma incerteza se sou o suficiente para ela, e isso me faz querer ser melhor, eu não me sinto o melhor, mas quero ser… eu me sinto como criança que espera a loja de doces abrir para comprar seu doce predileto quando eu a vejo do outro lado da rua ou da tela, ou do mundo… eu me sinto eu quando estou com ela, e me sinto dela quando estou sem ela… eu me sinto bobo, muitas vezes viu? Quando ela sorri, e me sinto perfeito quando ela apoia a cabeça em meu peito quando vemos filmes… eu me sinto metade quando ela esta triste… e me sinto completo quando faço ela sorrir… eu me sinto como um peixe descobrindo o mar quando ela me fala dela… sei que é um mundo vasto… mas é meu lar… é o que amo… e preciso para viver… eu… eu… eu me sinto feliz com ela, e me sinto disposto a ser feliz com ela.. eu me sinto metade sem a mão dela em minha mão… ou sem a voz dela em meu ouvido.. Eu me sinto capaz de tudo quando ela diz que me admira… e mais ainda quando ela diz que me ama…
O jovem se vira e percebe que a senhora o olha com um olhar de ternura, um sorriso tímido no rosto e um pouco, de umidade nos olhos,
- Meu jovem, isto é lindo.
- Obrigado senhora…
- Não … não me agradeça.. Apenas mantenha isso vivo em você, e não se preocupe, se falar em inglês, alemão, turco o que seja… se falar isso que falou com esse sentimento… todo mundo ira saber que é verdade… amor é uma língua universal.
Os dois conversaram por longos momentos durante a viagem, ela sabendo mais a respeito do jovem, e o jovem deliciando-se com a companhia e sabedoria da senhora.
No fim… no desembarque, enquanto o jovem segurava suas malas e buscava o rosto conhecido de sua Mari, sente um leve toque em seu ombro.
- Sabe eu me esqueci…- Diz a senhora- Existem dois tipos de amor em Japonês, AI que é um amor bonito sim, mas é genérico, é como o “ eu amo isso “ no português, mas o seu… Meu filho.. o seu amor é Koi…
- E como eu digo que a amo?
- Diga como me disse no avião…
A velha senhora seque seu caminho, e o jovem sente-se como criança esperando a loja de doces abrir quando reconhece o sorriso de sua Mari em meio a multidão.


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