Rugas

A menina puxou o casado do velho senhor a sua frente, ele parecia sério demais para ela… ele se vira lentamente e olha por um breve momento o rosto desatento do pai da menina, que ao perceber que o senhor não havia notado ela, puxa novamente o casado, desta vez sendo notada tanto pelo senhor como pelo jovem pai.

- Não faz isso menina.

- Tudo bem – Diz o senhor, virando-se e ajoelhando-se – O que foi? Quer alguma coisa?

- sim sim. - Diz a pequena menina puxando seu rabo de cabalo por sobre o ombro. - Porque o senhor tá com essa cara? Ao dizer isso toca a face do velho senhor nas rugas, nas marcas do tempo em seu rosto.

- Como assim? - Pergunta o senhor – Com essa cara velha quer dizer?

- Ha ha ha não, essa cara triste…

- E o senhor não quer trocar?

- Hey filha, olha os modos- diz o pai com um tom de vergonha na voz.

- Tudo bem meu jovem, ela esta certa.. eu tenho uma cara triste mesmo..

- Porque? Sua mãe não te dá bolo? Eu sempre fico triste quando minha mãe não me da bolo.

- Não, pequena, eu não sei, acho que por que eu não tive muitos momentos na vida que me fizeram sorrir, então meu rosto se acostumou a ficar assim, triste… e hoje mesmo feliz ele tá sempre assim, com essa carinha de chateado.

- E como posso trocar? - Diz ele colocando os fios de cabelo dela por trás da orelha dela. - Eu já estou velho.

- Minha mãe diz por meu pai que nunca é tarde pra começar… ela fala isso pra ele o tempo todo… quando ele diz que tá tarde pra lavar a louça, ou arrumar a garagem.

- … - O velho senhor levanta os olhos para o jovem pai que acena com os ombros como se não tivesse o que dizer, então o velho senhor diz -Olha… sua mãe é muito esperta.

- E sim. - diz a menina abrindo um largo sorriso – ela me ama.

- olha.. então ela não é apenas esperta, ela é muito sortuda, porque de certo você também ama a ela não é?

- Eu amo… ela tem uma cara feliz sempre… - a menina então com os indicadores de cada mão suspende os cantos da boca do velho senhor causando um sorriso desconfortavelmente grande.

- Ora… esta melhor?

- Não… os olhos do senhor estão tristes ainda…

- Mas veja só… eles estão mesmo… e como faço para melhorar eles?

- Não sei… quado eu to triste porque minha mãe não me da bolo eu vejo coisas bonitas… borboletas… meu pai diz que eu sou uma fada… pimmm pronto… agora você vai ser um moço de cara feliz.

O velho senhor sente todos os músculos de seu rosto se mexerem para cantos que a muito não iam, e ele sorri, sorri longamente, os olhos também acompanham o sorriso dos lábios, e por uma longa hora na fila ele e a pequena menina conversaram e riram sobre os bolos e modos de ser feliz.

Ela logo saiu com seu pai, e ele o velho senhor voltou lentamente para sua casa, no fim da rua, subiu as escadas e se olhou no espelho…

Ele era o mesmo velho senhor… mas suas rugas agora pareciam incrivelmente felizes.

- É pequena… a gente sempre fica feliz quando olha pra algo bonito… ainda bem que vou me lembrar de seu sorriso sempre.

Dizem que a casa do fim da rua mudou, era sempre silenciosa e modorrenta, hoje pode-se ouvir as risadas de um velho senhor que sempre acena a janela com os olhos mais sorridentes que um rosto pode ter.